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MANIFESTO: "JUNTOS PELA VIDA"



          O suicídio é o drama da vida mais silencioso, é o drama da vida mais silenciado. Todos os anos, ceifa a vida de mais de um milhão de pessoas no mundo. Em Portugal, segundo os dados oficiais de 2022, os mais recentes de que temos conhecimento, ocorrem 3 suicídios por dia, com uma taxa de quase nove suicídios por ano por 100 mil habitantes. É a principal causa de mortalidade entre jovens entre 15 a 24 anos. Só em 2022, foram 53 vítimas entre jovens dessa faixa etária e os números continuam a aumentar, mesmo em idades mais jovens, como temos visto na nossa Linha de Apoio. E são números subestimados. Sabemos que a realidade, que deixa milhares de famílias destruídas ao nosso redor pela dor, é muito, muitíssimo maior. Mortes que, em muitos casos, podem ser prevenidas e evitadas.


A isto somamos os números, não incluídos nas estatísticas, das tentativas não consumadas de pessoas que perderam a vontade de viver, que não encontram sentido nem esperança para continuar, nem saída para situações difíceis que vivem . E somamos também os milhares e milhares de pessoas que são conviventes, que estão ao seu lado e que também sofrem com tudo isso, companheiros próximos que observam impotentes a dor e o vazio vital dos seus entes queridos. Sofrimento que, também em muitos casos, é previsível e evitável.


Não podemos determinar os números exatos, mas sabemos o que é mais importante; que cada perda trágica de vidas acarreta um profundo impacto vital para muitas pessoas, porque esta realidade é um autêntico drama humano individual e coletivo, para aqueles que a realizam e para aqueles que lhes são mais próximos, enquanto nos questiona a todos como membros do mesmo grupo social.

              Qualquer um de nós, como seres humanos, somos vulneráveis, sensíveis ao sofrimento. Qualquer um de nós, em determinadas circunstâncias, pode cair no desânimo, no desamparo, no medo, na tristeza profunda ou na culpa. Qualquer um de nós, diante de situações adversas que envolvem intensa dor emocional, vivenciadas como intoleráveis e aparentemente intermináveis, pode perder o sentido e a vontade de viver. Aceitar e compreender esta vulnerabilidade, poder pedir ajuda, deixar-nos ajudar e dar um verdadeiro apoio, pode dar-nos a oportunidade de sair dessa escuridão e encontrar outros caminhos na vida. Para isso precisamos do envolvimento e do compromisso responsável de todos, JUNTOS.


Temos que nos perguntar como criamos uma sociedade em que todos os dias as pessoas perdem o sentido da sua própria existência. No entanto, estamos certos de que esta questão só poderá ser abordada em conjunto, sem diferenças ideológicas ou quaisquer outras, e enquadrando a ação e os recursos dentro de um PLANO NACIONAL de prevenção do suicídio coordenado com as diferentes administrações públicas. Um Plano que intervenha nos diferentes níveis, individual, familiar, comunitário, social, educacional e de saúde, que realiza o acompanhamento personalizado das pessoas vulneráveis, afetadas e dos familiares e que, claro, é realizado mantendo uma coordenação eficaz de recursos a nível nacional.


É por isso que estamos hoje aqui, para exigir unanimidade na compreensão deste grave problema de saúde pública, e para pedir corresponsabilidade, rigor, ética e compromisso na ação para caminharmos na mesma direção, priorizando o cuidado e o bem-estar de tantas pessoas que sofrem no nosso país.


Para fazer isso:


Exigimos um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio coordenado entre todas as administrações envolvidas, com dotação orçamental suficiente para a sua implementação e execução. É urgente e muito necessário.


Neste plano, pedimos:

  • Uma verdadeira melhoria nos cuidados básicos. Os profissionais dos cuidados básicos são as nossas referências mais próximas no cuidado e acompanhamento dos processos Saúde-doença que nos afetam ao longo da vida e é, portanto, um espaço de atenção fundamental na prevenção, deteção e seguimento do suicídio.

  • Precisamos de especial atenção e cuidado com a qualidade dos serviços de Saúde Mental, fornecendo recursos humanos e económicos suficientes e revendo em profundidade um sistema de cuidado que não funciona, porque falta tempo, falta de continuidade e falta de profissionais especialmente capacitados.

  • Pedimos a implementação de um modelo de atenção comunitária que promova uma abordagem integrada dos diferentes serviços e níveis de atenção, oferecendo uma resposta sanitária, social, educacional, trabalhista e judicial que se concentre no cuidado da saúde emocional das pessoas, das famílias e da sociedade como um todo.

  • É prioritário desenvolver planos de formação para profissionais de todas as áreas envolvidas no cuidado de pessoas vulneráveis, alterando os planos de estudo e incorporando a prevenção do suicídio nos planos curriculares e desenvolvendo Protocolos de intervenção comuns aos profissionais envolvidos.

  • É essencial conhecer e compreender o comportamento suicida. Precisamos de pesquisadores e pesquisas que ofereçam informações rigorosas e atualizadas para o nosso momento histórico e social e que nos permitam desenvolver modelos de intervenção plurais, específicos e verdadeiramente eficazes.

  • Precisamos de sensibilizar e melhorar a informação da população em geral através de campanhas de sensibilização promovidas por instituições públicas, meios de comunicação e entidades sociais. É urgente que sejam implementadas campanhas nacionais que reduzam o estigma social que acompanha a doença mental e campanhas com impacto focadas na prevenção.

  • Pedimos uma melhoria substancial nos estudos estatísticos oficiais, hoje com respostas de dados muito atrasadas no tempo. Levamos 2 anos em termos de dados que nos permitam traçar planos de intervenção mais ajustados à realidade individual e coletiva que vivemos.

  • Pedimos a colaboração direta dos Institutos de Medicina Legal e de Ciências Forenses que dispõem de dados confiáveis e atualizados no momento, e que podem desenvolver autópsias psicológicas que nos permitam compreender melhor o comportamento suicida.

  • Solicitamos que aos Media sejam monitorados para que adotem práticas de comunicação responsável pelas informações sobre suicídio, ampliando essa fiscalização à utilização das tecnologias de informação e das redes sociais onde é urgente desenvolver um plano de ação em redes para a deteção precoce de risco dos mais jovens e desenvolver medidas de intervenção e ajuda adaptadas a estas idades e aos meios de comunicação com os quais comunicam. Hoje, o suicídio já é a principal causa de morte dos jovens entre os 15 e 24 anos no nosso país.

  • E precisamos de maior apoio e escuta às organizações que se dedicam à prevenção e às que acompanham as pessoas e as suas famílias. Associações que trabalham pelo nosso autocuidado e pela saúde emocional das pessoas e Associações de pessoas afetadas e sobreviventes, de pessoas que perderam um ente querido que morreu por suicídio, cada vez mais presente e mais necessário no nosso país.


Cada suicídio não fica com uma pessoa ou com uma família. Cada suicídio afeta-nos, a todos nós porque também tem causas e consequências sociais. É tarefa da comunidade trabalhar JUNTOS PELA VIDA de forma responsável e coordenada para que esta realidade se torne visível, para que quem sofre seja cuidado de forma respeitosa, próxima e eficaz. Só assim poderemos continuar a avançar na compreensão e prevenção do suicídio. Só assim poderemos construir um mundo mais humano, mais solidário, um mundo em que valha a pena viver.


VOZES AMIGAS DA ESPERANÇA, VOADES – PORTUGAL


Setembro 2024

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